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degel de Fradique, bem cedo senti, através da impassibilidade marmórea do cinzelador das LAPIDÁRIAS, brotar, tépida e generosamente, o leite da bondade humana.

A forte expressão de virtude que nele loga me impressionou, foi a sua incondicional e irrestrita indulgência. Ou por uma conclusão da sua filosofia, ou por uma inspiração da sua natureza— Fradique, perante o pecado e o delito, tendia àquela velha misericórdia evangélica que, consciente da universal fragilidade, pergunta de onde se erguerá a mão bastante pura, para arremessar a primeira pedra ao erro. Em toda a culpa ele via (talvez contra a razão, mas em obediência àquela voz que falava baixo a S. Francisco de Assis e que ainda se não calou), a irremediável fraqueza humana: e o seu perdão subia logo do fundo dessa Piedade que jazia na sua alma, como manancial de água pura em terra rica, sempre pronto a brotar.

A sua bondade, porém, não se limitava a esta expressão passiva. Toda a desgraça, desde a amargura limitada e tangível que passa na rua, até à vasta e esparsa miséria que, com a força dum elemento, devasta classes e raças, teve nele um consolador diligente e real. São dele, e escritas nos derradeiros anos (numa carta a G. F.) estas nobres palavras:—«Todos nós, que vivemos neste globo, formamos uma imensa caravana que marcha confusamente para o Nada. Cerca-nos uma Natureza inconsciente, impassível,