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se não alguns extratos dos seus manuscritos, ao menos algumas revelações sobre a sua natureza. A resposta de Madame Lobrinska foi uma recusa, bem determinada, bem deduzida,—mostrando que, decerto sob «os claros olhos de Juno», estava uma clara razão de Minerva. «Os papéis de Carlos Fradique (dizia em suma) tinham-lhe sido confiados, a ela que vivia longe da publicidade, e do mundo que se interessa e lucra na publicidade, com o intuito de que, para sempre, conservassem o caráter intimo e secreto em que tanto tempo Fradique os mantivera: e nestas condições, o revelar a sua natureza, seria manifestamente contrariar o recatado e altivo sentimento que ditara esse legado...» Isto vinha escrito, com uma letra grossa e redonda, numa larga folha de papel áspero, onde a um canto brilhava a ouro, sob uma coroa de ouro, esta divisa —PER TERRAM AD COELUM.

Deste modo se estabeleceu a obscuridade em torno dos manuscritos de Fradique. Que continha realmente esse cofre de ferro, que Fradique, com desconsolado orgulho, denominava a vala comum, por julgar pobres e sem brilho no Mundo os pensamentos que para lá arrojava?

Alguns amigos pensam que aí se devem encontrar, se não completas, ao menos esboçadas, ou já coordenadas nos seus materiais, as duas obras a que Fradique aludia como sendo as mais cativantes, para um pensador e um artista deste século —uma Psicologia