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viuvez—até que reflorescessem os lilases. Mas desta vez Libuska não voltou, nem com as flores dos castanheiros.

O marido de Madame Lobrinska era um Diplomata que estudava e praticava sobretudo os menus e os cotillons. A sua carreira foi portanto irremediavelmente subalterna e lenta. Durante seis anos jazeu no Rio de Janeiro, entre os arvoredos de Petrópolis, como Secretário, esperando aquela legação na Europa que o Príncipe Gortchakoff, então Chanceler Imperial, afirmava pertencer a Madame Lobrinska par droit de beauté et de sagesse. A legação na Europa, numa capital mundana, culta, sem bananeiras, nunca veio compensar aqueles exilados que sofriam das saudades da neve: —e Madame Lobrinska, no seu exílio, chegou a aprender tão completamente a nossa doce língua de Portugal, que Fradique me mostrou uma tradução da elegia de Lavoski, A Colina do Adeus, trabalhada por ela com superior pureza e relevo. Só ela pois, realmente, dentre todas as amigas de Fradique, podia apreciar como páginas vivas, onde o pensador depusera a confidência do seu pensamento, esses manuscritos que para as outras seriam apenas secas e mortas folhas de papel, cobertas de linhas incompreendidas.

Logo que comecei a colecionar as cartas dispersas de Fradique Mendes, escrevi a Madame Lobrinska, contando o meu empenho em fixar, num estudo carinhoso, as feições desse transcendente espírito—e implorando,