si própria, e separada do valor do pensamento, exercesse sobre as almas a ação inefável do absolutamente belo —eis as duas influências negativas que retiveram Fradique para sempre inédito e mudo. Tudo o que da sua inteligência emanasse queria ele que, perpetuamente, ficasse atuando sobre as inteligências, pela definitiva verdade ou pela incomparável beleza. Mas a crítica inclemente e sagaz, que praticava sobre os outros, praticava-a sobre si, cada dia. com redobrada sagacidade e inclemência. O sentimento, tão vivo nele, da Realidade fazia-lhe distinguir o seu próprio espírito tal como era, na sua real potência e nos seus reais limites sem que lho mostrassem mais potente ou mais largo esses «fumos da ilusão literária» — que levam todo o homem de letras, mal corre a pena sobre o papel, a tomar por faiscantes raios de luz alguns sujos riscos de tinta. E concluindo que, nem pela ideia, nem pela forma, poderia levar as inteligências persuasão ou encanto, que definitivamente marcassem na evolução da razão ou do gosto—preferiu altivamente permanecer silencioso. Por motivos nobremente diferentes dos de Descartes, ele seguiu assim a máxima que tanto seduzia Descartes—bene vixit qui bene latuit.
Nenhum destes sentimentos ele me confessou; mas todos lhos surpreendi, transparentemente, num dos derradeiros Natais que vim passar à Rua de Varennes, onde Fradique pelas festas do ano me hospedava com imerecido esplendor. Era uma