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e de veia que Fontan de Carmanges denominava le dégel de Fradique, e em que o gesto estreito e sóbrio se Lhe desmanchava num esvoaçar de flâmula ao vento.

Fradique nunca datava as suas cartas: e, se elas vinham de moradas familiares aos seus amigos notava meramente o nome do mês. Existem assim cartas inumeráveis com esta resumida indicação—Paris, Julho; Lisboa, Fevereiro... Frequentemente, também, restituía aos meses as alcunhas naturalistas do calendário republicano —Paris, Floreal; Londres, Nivose. Quando se dirigia a mulheres, substituía ainda o nome do mês pelo da flor que melhor o simboliza; e possuo ainda cartas com esta bucólica data—Florença primeiras violetas (o que indica fins de Fevereiro); Londres, chegada dos Crisântemos (o que indica começos de Setembro). Uma carta de Lisboa oferece mesmo esta data atroz—Lisboa, primeiros fluxos da verborreia parlamentar! (Isto denuncia um Janeiro triste, com lama, tipoias no Largo de S. Bento, e bacharéis em cima bolsando, por entre injúrias, fezes de velhos compêndios) .

Não é portanto possível dispor a Correspondência de Fradique por uma ordem cronológica: nem de resto essa ordem importa, desde que eu não edito a sua Correspondência completa e integral, formando uma história contínua e íntima das suas ideias. Em cartas que não são dum autor e que não constituem, como as de Voltaire ou de Proudhon, o corrente e constante comentário que acompanha e ilumina