em rígido asseio por uma destas criadas como só produz Portugal, bela moça de Trás-os-Montes, que, arrastando os seus chinelos com a indolência grave duma ninfa latina, varre esfrega e arruma todo o andar; serve nove almoços, nove jantares e nove chás; escarola as loiças; prega esses botões de calças e de ceroulas que os Portugueses estão constantemente a perder; engoma as saias da Madama; reza o terço da sua aldeia; e tem ainda vagares para amar desesperadamente um barbeiro vizinho, que está decidido a casar com ela quando for empregado na Alfândega. (E tudo isto por três mil-réis de soldada). Ao almoço há dois pratos, sãos e fartos, de ovos e bifes. O vinho vem do lavrador, vinhinho leve e precoce, feito pelos veneráveis preceitos das Geórgicas, e semelhante decerto ao vinho da Rethia—quo te carmine dicam, Rethica? A torrada, tratada pelo lume forte, é incomparável. E os quatro painéis que orlam a sala, um retrato de Fontes (estadista, já morto, que é tido pelos Portugueses em grande veneração), uma imagem de Pio IX sorrindo e abençoando, uma vista da várzea de Colares, e duas donzelas beijocando uma rola, inspiram as salutares ideias, tão necessárias, de Ordem Social, de Fé, de Paz campestre, e de Inocência.
A patroa, D. Paulina Soriana, é uma Madama de quarenta outonos, frescalhota e roliça, com um pescoço muito nédio, e toda ela mais branca que o chambre branco que usa por sobre uma saia de seda roxa.