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tempos de delicado sensualismo, todo o meu interesse e todo o meu cuidado! Decerto eu adorava a Ideia na sua essência; — mas quanto mais o Verbo que a encarnava! Baudelaire, mostrando à sua amante na Charogne, a carcaça podre do cão e equiparando em ambas as misérias da carne, era para mim de magnífica surpresa e enlevo; e diante desta crespa e atormentada sutilização do sentir, que podia valer o fácil e velho Lamartine, no Lago, mostrando a Elvira a cansada Lua, e comparando em ambas a palidez e a graça meiga? Mas se este áspero e fúnebre espiritualismo de Baudelaire, me chegasse expresso na língua lassa e mole de Casimir Delavigne — eu não lhe teria dado mais apreço, do que a versos vis do Almanaque de Lembranças.

Foi sensualmente enterrado nesta idolatria da Forma, que deparei com essas LAPIDÁRIAS de Fradique Mendes, onde julguei ver reunidas e fundidas as qualidades discordantes de majestade e de nervosidade que constituíam, ou me pareciam constituir, a grandeza dos meus dois ídolos — o autor das Flores do Mal, e o autor dos Poemas Bárbaros. A isto acrescia, para me fascinar, que este poeta era português, cinzelava assim preciosamente a língua que até aí tivera como joias aclamadas o Noivado do Sepulcro e o Ave César!, habitava Lisboa, pertencia aos Novos, possuía decerto na alma, talvez no viver, tanta originalidade poética como nos seus poemas! E esse folhetim amarrotado da Revolução de Setembro, tomava assim a