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Eldorados maravilhosos, férteis em delícias e tesouros, onde os seixos das praias lhes pareciam logo diamantes a reluzir.

Li algures que Juan Ponce de Léon, enfastiado das cinzentas planícies de Castela-a-Velha, não encontrando também já encanto nos pomares verde-negros da Andaluzia — se fizera ao mar, para buscar outras terras, e mirar algo novo. Três anos sulcou incertamente a melancolia das águas atlânticas: meses tristes errou perdido nos nevoeiros das Bermudas: toda a esperança findara, já as proas gastas se voltavam para os lados onde ficara a Espanha. E eis que numa manhã de grande sol, em dia de S. João, surgem ante a armada extática os esplendores da Florida! «Gracias te sean, mi S. Juan bendito, que hé mirado algo nuevo!» As lágrimas corriam-lhe pelas barbas brancas — e Juan Ponce de Léon morreu de emoção. Nós não morremos mas lágrimas congêneres como as do velho mareante saltaram-me dos olhos, quando pela primeira vez penetrei por entre o brilho sombrio e os perfumes acres das Flores do Mal. Seríamos assim absurdos em 1867!

De resto, exatamente como Ponce de Léon, eu só procurava em Literatura e Poesia algo nuevo que mirar. E para um meridional de vinte anos, amando sobretudo a Cor e o Som na plenitude da sua riqueza, que poderia ser esse algo nuevo senão o luxo novo das formas novas? A Forma, a beleza inédita e rara da Forma, eis realmente, nesses