doce adorada, para me fazer sentir a minha realidade, e me permitir que eu bradasse também triunfalmente o meu—«amo, logo existo!» E não foi só a minha realidade que me desvendaste—mas ainda a realidade de todo este Universo, que me envolvia como um ininteligível e cinzento montão de aparências. Quando há dias, no terraço de Savran, ao anoitecer, te queixavas que eu contemplasse as estrelas estando tão perto dos teus olhos, e espreitasse o adormecer das colinas junto ao calor dos teus ombros—não sabias, nem eu te soube então explicar, que essa contemplação era ainda um modo novo de te adorar, porque realmente estava admirando, nas coisas, a beleza inesperada que tu sobre elas derramas, por uma emanação que te é própria, e que, antes de viver a teu lado, nunca eu lhes percebera, como se não percebe a vermelhidão das rosas ou o verde tenro das relvas, antes de nascer o Sol! Foste tu, minha bem-amada, que me alumiaste o mundo. No teu amor recebi a minha Iniciação. Agora entendo, agora sei. E, como o antigo Iniciado, posso afirmar:—«Também fui a Elêusis; pela larga estrada pendurei muita flor que não era verdadeira, diante de muito altar que não era divino; mas a Elêusis cheguei, em Elêusis penetrei —e vi e senti a verdade! ...»
E acresce ainda, para meu martírio e glória, que tu és tão sumptuosamente bela e tão etereamente bela, duma beleza feita de Céu e de Terra, beleza completa e só tua, que eu já concebera—que nunca julgara realizável. Quantas vezes, ante aquela