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FRADIQUE.


XIII


A CLARA...


(Trad.).


Paris, Novembro.


Meu Amor.—Ainda há poucos instantes (dez instantes, dez minutos, que tanto gastei num fiacre desolador desde a nossa Torre de Marfim), eu sentia o rumor do teu coração junto do meu, sem que nada os separasse senão uma pouca de argila mortal, em ti tão bela, em mim tão rude—e já estou tentando recontinuar ansiosamente, por meio deste papel inerte, esse inefável estar contigo que é hoje todo o fim da minha vida, a minha suprema e única vida. É que, longe da tua presença, cesso de viver, as coisas para mim cessam de ser — e fico como um morto jazendo no meio de um mundo morto. Apenas, pois, me finda esse perfeito e curto momento de vida que me dás, só com pousar junto de mim e murmurar o meu nome — recomeço a aspirar desesperadamente para ti, como para uma ressurreição!

Antes de te amar, antes de receber das mãos de meu Deus a minha Eva—que era eu, na verdade? Uma sombra flutuando entre sombras. Mas tu vieste,