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já risonho, com um clarão alvoroçado na face mole: — Fradique? Se conheço o grande Fradique? É meu parente! É meu patrício! É meu parceiro! — Ainda bem, Vidigal, ainda bem!

Fomos ao Passeio Público (onde Marcos se ia encontrar com um agiota). Tomamos sorvetes debaixo das acácias: e pelo cronista da Revolução conheci a origem, a mocidade, os feitos do poeta das LAPIDÁRIAS.

Carlos Fradique Mendes pertencia a uma velha e rija família dos Açores; e descendia por varonia do navegador D. Lopo Mendes, filho segundo da casa da Troba, e donatário duma das primeiras capitanias criadas nas Ilhas por começos do Século XVI. Seu pai, homem magnificamente belo, mas de gostos rudes, morrera (quando Carlos ainda gatinhava), dum desastre, na caça. Seis anos depois sua mãe, senhora tão airosa, pensativa e loura que merecera dum poeta da Terceira o nome de Virgem de Ossian, morria também duma febre trazida dos campos, onde andara bucolicamente, num dia de sol forte, cantando e ceifando feno. Carlos ficou em companhia e sob a tutela de sua avó materna, D. Angelina Fradique, velha estouvada, erudita e exótica que colecionava aves empalhadas, traduzia Klopstock, e perpetuamente sofria dos «dardos de Amor». A