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para sempre ligam e fundem dois seres, numa constância vencedora da Sorte e sobrevivente à Vida. Um qualquer nada provoca esse fatal ou providencial enlaçamento de átomos. Por vezes um olhar, como desastradamente em Verona sucedeu a Romeu e Julieta; por vezes o impulso de duas crianças para o mesmo fruto, num vergel real, como na amizade clássica de Orestes e Pílades. Ora, por esta teoria (tão satisfatória como qualquer outra em Psicologia afetiva), a esplêndida aventura de amor, que eu tão generosamente reservara a Fradique na Última Campanha de Júpiter, seria a causa misteriosa e inconsciente, o nada que determinou a sua primeira simpatia para comigo, desenvolvida, solidificada depois em seis anos de intimidade intelectual.

Muitas vezes, no decurso da nossa convivência, Fradique aludiu gratamente a essa minha encantadora intenção de lhe atar, em torno do pescoço, os braços de Jeame Morlaix. Fora ele cativado pela sinuosa e poética homenagem, que eu assim prestava às suas seduções de homem? Não sei. —Mas, quando nos erguemos para ir ver as iluminações do Beiram, Fradique Mendes, com um modo novo, aberto, quente, quase íntimo, já me tratava por você.

As iluminações no Oriente consistem, como as do Minho, de tigelinhas de barro e de vidro onde arde um pavio ou uma mecha de estopa. Mas a descomedida