Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/58

Judeus imundos, de caracóis frisados; Coptas togadas à maneira de senadores; soldados pretos do Darfour, com fardetas de linho enodoadas de poeira e sangue; ulemás de turbante verde; persas de mitra de feltro; mendigos de mesquita, cobertos de chagas; amanuenses Turcos, pomposos e anafados, de colete bordado a ouro... Que sei eu! Um carnaval rutilante, onde a cada momento passavam, sacudidos pelo trote dos burros sobre albardas vermelhas, enormes sacos enfunados— que eram mulheres. E toda esta turba magnífica e ruidosa se movia entre invocações a Alá, repiques de pandeiretas, gemidos estridentes partindo das cordas das durbakas, e cantos lentos—esses cantos árabes , duma voluptuosidade tão dolente e tão áspera, que Fradique dizia passarem na alma com uma «carícia rascante». Mas por vezes, entre o casario decrépito e rendilhado, surgia uma frontaria branca, casa rica de Xeque ou de Paxá, com a varanda em arearias, por onde se avistavam lá dentro, num silêncio de harém, sedas colgantes recamos de ouro, um tremor de lumes no cristal dos lustres, formas airosas sob véus claros... Então a multidão parava, emudecia, e de todos os lábios saía um grande ah! lânguido e maravilhado.

Assim caminhávamos, quando, ao sair do Mujik, Fradique Mendes parou, e, muito gravemente, trocou com um moço pálido, de esplêndidos olhos, o salam — essa saudação oriental em que os dedos três