ouro; nem poetas do deserto recitando as façanhas de Antar; nem Dervíxes, sob as suas tendas de linho, uivando em cadência os louvores de Alá... Calado, invadido pelo pensamento do Bab, revolvia comigo o confuso desejo de me aventurar nessa campanha espiritual! Se eu partisse para Tebas com Fradique?... Por que não? Tinha a mocidade, tinha o entusiasmo. Mais viril e nobre seria encetar no Oriente uma carreira de evangelista, que banalmente recolher à banal Lisboa, a escrevinhar tiras de papel, sob um bico de gás, na Gazeta de Portugal! E pouco a pouco deste desejo, como duma água que ferve, ia subindo o vapor lento duma visão. Via-me discípulo do Bab— recebendo nessa noite, do ulemá de Bagdá, a iniciação da Verdade. E partia logo a pregar, a espalhar o verbo babista. Onde iria? A Portugal certamente, levando de preferência a salvação às almas que me eram mais caras. Como S. Paulo, embarcava numa galera: as tormentas assaltavam a minha proa apostólica: a imagem do Bab aparecia-me sobre as águas, e o seu sereno olhar enchia minha alma de fortaleza indomável. Um dia, por fim, avistava terra, e na manhã clara sulcava o claro Tejo, onde há tantos séculos não entra um enviado de Deus. Logo de longe lançava uma injúria às igrejas de Lisboa, construções duma Fé vetusta e menos pura. Desembarcava. E, abandonando as minhas bagagens, num desprendimento já divino de bens ainda terrestres, galgava aquela bendita Rua do Alecrim,