nem quase se conheciam; a fonte da imaginação secava entre os muçulmanos; e a pobre Poesia Oriental, tratando temas vetustos com uma ênfase preciosa, descambara, como a nossa, num Parnasianismo bárbaro. . .
—De sorte—murmurei—que o Oriente...
—Está tão medíocre como o Ocidente.
E recolhemos ao hotel, devagar, enquanto Fradique, findando o charuto, me contava que o espírito oriental, hoje, vive só da atividade filosófica, agitado cada manhã por uma nova e complicada concepção da Moral, que Lhe oferecem os Lógicos dos bazares e os Metafísicos do deserto... Ao outro dia acompanhei Fradique a Boulak, onde ele ia embarcar para o Alto Egito. O seu debarieh esperava, amarrado à estacaria, rente das casas do Velho Cairo, entre barcas de Assouan, carregadas de lentilha e de cana doce. O Sol mergulhava nas areias líbicas: e no alto, o céu adormecia, sem uma sombra, sem uma nuvem, puro em toda a sua profundidade, como a alma dum justo. Uma fila de mulheres coptas, com o cântaro amarelo pousado no ombro, descia cantando para a água do Nilo, bendita entre todas as águas. E os íbis, antes de recolher aos ninhos, vinham, como no tempo em que eram Deuses, lançar por sobre os eirados, com um bater de asas contentes, a bênção crepuscular.
Baixei, atrás de Fradique, ao salão do debarieh envidraçado, estofado, com armas penduradas para