Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/75

Talvez na face, se eu tivesse reparado, encontrasse restos de palidez e de emoção; mas o tom era simples, firme, dum crítico genuinamente ocupado na dedução do seu conceito. Outro homem que, como aquele, tivesse sofrido horas antes uma desilusão tão mortificante e rude, murmuraria ao menos, num desafogo genérico e impessoal:—«Ah, amigo, que estúpida é a vida!» Ele falou da Ciência e das Plebes,—desenrolando determinadamente diante de mim, ou impondo talvez a si mesmo, os raciocínios do seu cérebro, para que os meus olhos não penetrassem de leve, ou os seus não se detivessem de mais, nas amarguras do seu coração.

Numa carta a Oliveira Martins, de 1883, Fradique diz:—«O homem, como os antigos reis do Oriente, não se deve mostrar aos seus semelhantes senão única e serenamente ocupado no ofício de reinar—isto é, de pensar». Esta regra, dum orgulho apenas permissível a um Espinosa ou a um Kant, dirigia severamente a sua conduta. Pelo menos comigo assim se comportou imutavelmente, através da nossa ativa convivência, não se abrindo, não se oferecendo todo, senão nas funções da Inteligência. Por isso talvez, mais que nenhum outro homem, ele exerceu sobre mim império e sedução.