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braço, balbucia um «adeus!», acena a um fiacre, e desaparece ao galope arquejante da pileca para os lados do cais de Orsay. «Mulher!», pensei eu. Era, com efeito, a mulher e o seu tormento; e como se depreende duma carta a Madame de Jouarre (datada de «Maio, sábado», e começando «Ontem filosofava com um amigo no jardim das Tulherias...»). Fradique corria nesse fiacre a uma desilusão bem rude e mortificante. Ora nessa tarde, ao crepúsculo, fui (como combinara) buscar Fradique à Rua de Varennes, ao velho palácio dos Tredemes, onde ele instalara desde o Natal os seus aposentos, com um luxo tão nobre e tão sóbrio. Apenas entrei na sala que denominávamos a «Heroica», porque a revestiam quatro tapeçarias de Luca Cornélio contando os Trabalhos de Hércules, Fradique deixa a janela donde olhava o jardim já esbatido em sombra, vem para mim serenamente, com as mãos enterradas nos bolsos duma quinzena de seda. E, como se desde essa manhã nenhum outro cuidado o absorvesse senão o seu tema do jardim das Tulherias:

—Não lhe acabei de dizer há pouco... A Ciência, meu caro, tem de ser recolhida como outrora aos Santuários. Não há outro meio de nos salvar da anarquia moral. Tem de ser recolhida aos Santuários, e entregue a um sacro colégio intelectual que a guarde, que a defenda contra as curiosidades das plebes... Há a fazer com esta ideia um programa para as gerações novas!