das suas últimas cartas, em 1886) tive a paixão da História. E adivinha você por quê, Historiador? Pelo confortável e conchegado sentimento que ela me dava da solidariedade humana. Quando fiz onze anos, minha avó, de repente, para me habituar às coisas duras da vida (como ela dizia), arrancou-me ao pachorrento ensino do padre Nunes, e mandou-me a uma escola chamada Terceirense. O jardineiro levava-me pela mão: e todos os dias a avó me dava com solenidade um pataco para eu comprar na tia Marta, confeiteira da esquina, bolos para a minha merenda. Este criado, este pataco, estes bolos, eram costumes novos que feriam o meu monstruoso orgulho de morgadinho—por me descerem ao nível humilde dos filhos do nosso procurador. Um dia, porém, folheando uma Enciclopédia de Antiguidades Ramanas, que tinha estampas, li, com surpresa, que os rapazes em Roma (na grande Roma!) iam também de manhã para a escola, como eu, pela mão dum servo—denominado o Capsarius; e compravam também, como eu, um bolo numa tia Marta do Velabro ou das Carinas, para comerem a merenda—que chamavam o Ientaculum. Pois, meu caro, no mesmo instante, a venerável antiguidade desses hábitos tirou-lhes a vulgaridade toda que neles me humilhava tanto! Depois de os ter detestado, por serem comuns aos filhos do Silva procurador—respeitei-os por terem sido habituais nos filhos de Cipião. A compra