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do bolo tornou-se como um rito, que desde a Antiguidade todos os rapazes de escola cumpriam, e que me era dado por meu turno celebrar, numa honrosa solidariedade com a grande gente togada. Tudo isto, evidentemente, não o sentia com esta clara consciência. Mas nunca entrei daí por diante na tia Marta, sem erguer a cabeça, pensando com uma vanglória heroica: —«Assim faziam também os Romanos!» Era por esse tempo pouco mais alto que uma espada goda, e amava uma mulher obesa que morava ao fim da rua...»

Nessa mesma carta, adiante, Fradique acrescenta:—«Levou-me pois efetivamente à História o meu amor da Unidade—amor que envolve o horror às interrupções, às lacunas, aos espaços escuros onde se não sabe o que há. Viajei por toda a parte viajável, li todos os livros de explorações e de travessias—porque me repugnava não conhecer o globo em que habito até aos seus extremos limites, e não sentira continua solidariedade do pedaço de terra que tenho sob os pés, com toda a outra terra que se arqueia para além. Por isso, incansavelmente exploro a História, para perceber até aos seus derradeiros limites a Humanidade a que pertenço, e sentir a compacta solidariedade do meu ser. com a de todos os que me precederam na vida. Talvez você murmure com desdém—«mera bisbilhotice!» Amigo meu, não despreze a bisbilhotice! Ela é um impulso humano, de latitude infinita, que, como todos, vai