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se misturar a natureza de gosto; horror físico, imaginando que nunca se lavavam, rarissimamente mudavam de meias, e que deles provinha esse cheiro morno e mole, que tanto surpreende e enoja em S. Bento, aos que dele não têm o hábito profissional.

Havia nestas ferozes opiniões, certamente, laivos de perfeita verdade. Mas em geral, os juízos de Fradique sobre a Política ofereciam o cunho dum preconceito que dogmatiza—e não duma observação que discrimina. Assim lho afirmava eu uma manhã, no Braganza, mostrando que todas essas deficiências de espírito, de cultura, de maneiras, de gosto, de finura, tão acerbamente notadas por ele nos Políticos—se explicam suficientemente pela precipitada democratização da nossa sociedade; pela rasteira vulgaridade da vida provincial; pelas influências abomináveis da Universidade; e ainda por íntimas razões que são, no fundo, honrosas para esses desgraçados Políticos, votados por um fado vingador à destruição da nossa terra.

Fradique replicou simplesmente:

—Se um rato morto me disser,—«eu cheiro mal por isto e por aquilo e sobretudo por que apodreci»,— eu nem por isso deixo de o mandar varrer do meu quarto.

Havia aqui uma antipatia de instinto, toda fisiológica, cuja intransigência e obstinação nem fatos nem raciocínios podiam vencer. Bem mais justo era