do ciume, que torna injustas e rancorosas as almas ainda as mais candidas e benevolentes. A senhora, com o correr dos dias, tornava-se cada vez menos tratavel e benigna para com a escrava, que antes havia tratado com carinho e intimidade quasi fraternal.
Malvina era boa e confiante, e nunca teria duvidado da innocencia de Isaura, se não fosse Rosa, sua terrivel emula e figadal inimiga. Depois do desaguisado, de que Isaura foi causa innocente, Rosa ficou sendo a mucama ou criada da camara de Malvina, e esta ás vezes desabafava em presença da maligna mulata os ciumes e desgostos, que lhe fervião e transvasavão do coração.
— Sinhá está-se fiando muito naquella sonsa... — dizia-lhe a maliciosa rapariga. — Pois fique certa, que não são de hoje esses namoricos; ha muito tempo, que eu estou vendo essa impostora, que diante da sinhá se faz toda simploria, andar-se derretendo diante de sinhô moço. Ella mesmo é que tem a culpa d’elle andar assim com a cabeça virada.
Estes e outros muitos quejandos enredos, que Rosa sabia habilmente insinuar nos ouvidos de sua senhora, erão bastantes para desvairar o espirito de uma candida e inexperiente moça como Malvina, e forão produzindo o resultado, que desejava a perversa mulatinha.