Acabrunhada com aquelle novo infortunio, Isaura fez algumas tentativas para achegar-se de sua senhora, e saber o motivo por que lhe retirava a affeição e confiança, que sempre lhe mostrára, e a fim de poder manifestar sua innocencia. Mas era recebida com tal frieza e altivez, que a infeliz recuava espavorida para de novo ir mergulhar-se mais fundo ainda no pégo de suas angustias e desalentos.

Todavia emquanto Malvina se conservava em casa, era sempre uma salva-guarda, uma sombra protectora, que amparava Isaura contra as importunações e brutaes tentativas de Leoncio. Por menor que fosse o respeito, que lhe tinha o marido, ella não deixava de ser um poderoso estorvo ao menos contra os actos de violencia, que quizesse pôr em pratica para conseguir seos execrandos fins. Isaura ponderava isso tudo, e é custoso fazer-se idéa do estado de terror e desfallecimento em que ficou aquella pobre alma quando vio partir sua senhora, deixando-a inteiramente ao desamparo, entregue sem defesa aos insanos e barbaros caprichos daquelle, que era seo senhor, amante e algoz ao mesmo tempo.

De feito Leoncio mal vio sumir-se a esposa por trás da ultima collina, não podendo conter mais a expansão de seo satanico jubilo, tratou logo de pôr o tempo em proveito, e pôz-se a percorrer toda a casa em procura de Isaura.