— Meo pae, — dizia uma jovem senhora a um homem respeitavel, em cujo braço se arrimava, entrando na ante-sala, onde ainda nos conservamos de observação. — Meo pae, fiquemos por aqui um pouco nesta sala, em quanto está deserta. Ah! meo Deos! — continuou ella com voz abafada, depois de se terem sentado junto um do outro; — que vim eu aqui fazer, eu pobre escrava, no meio dos saráos dos ricos e dos fidalgos!... este luxo, estas luzes, estas homenagens, que me rodeião, me perturbão os sentidos e causão-me vertigem. E’ um crime que cometo, envolvendo-me no meio de tão luzida sociedade; é uma traição, meo pae; eu o conheço, e sinto remorsos... Se estas nobres senhoras adivinhassem, que ao lado dellas diverte-se e dança uma miseravel escrava fugida a seos senhores!... Escrava! — exclamou levantando-se — escrava!... affigura-se-me que todos estão lendo, gravada em letras negras em minha fronte, esta sinistra palavra!... fujamos daqui, meu pai, fujamos! esta sociedade parece estar escarnecendo de mim; este ar me suffoca... fujamos.

Fallando assim a moça pálida e offegante, lançava a cada phrase olhares inquietos em roda de si, e empuchava o braço de seo pae, repetindo sempre com anciosa soffreguidão: — Vamo-nos, meo pae; fujamos daqui.

— Socega teo coração, minha filha, respon-