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A ESCRAVA ISAURA

daquella sumptuosa propriedade se achavão ausentes.

A favor desse quasi silencio harmonioso da natureza ouvia-se distinctamente o harpejo de um piano casando-se a uma voz de mulher, voz melodiosa, suave, apaixonada, e do timbre o mais puro e fresco que se pode imaginar.

Posto que um tanto abafado, o canto tinha uma vibração sonora, ampla e volumosa, que revelava excellente e vigorosa organisação vocal. O tom velado e melancolico da cantiga, parecia gemido suffocado de uma alma solitaria e soffredora.

Era essa a unica voz, que quebrava o silencio da vasta e tranquilla vivenda. Por fora tudo parecia escutal-a em mistico e profundo recolhimento.

As coplas, que cantava, dizião assim?

Desd’o berço respirando
Os ares da escravidão,
Como semente lançada
Em terra de maldição,
A vida passo chorando
Minha triste condição.

Os meos braços estão presos,
A ninguem posso abraçar,
Nem meos labios, nem meos olhos
Não podem de amor fallar;
Deo-me Deus um coração
Sómente para penar.