A ESCRAVA ISAURA
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Ao ar livre das campinas
Seo perfume exhala a flor;
Canta a aura em liberdade
Do bosque o alado cantor;
Só para a pobre captiva
Não ha canções, nem amor.

Cala-te, pobre captiva;
Teos queixumes crimes são;
E’ uma affronta esse canto,
Que exprime tua afflicção.
A vida não te pertence,
Não é teo teo coração.

As notas sentidas e maviosas daquelle cantar escapando pelas janellas abertas e echoando ao longe em derredor, dão vontade de conhecer a sereia, que tão lindamente canta. Se não é sereia, sómente um anjo pode cantar assim.

Subamos os degráos, que conduzem ao alpendre, todo engrinaldado de viçosos festões e lindas flores, que serve de vestibulo ao edificio. Entremos sem cerimonia. Logo á direita do corredor encontramos aberta uma larga porta, que dá entrada á sala de recepção, vasta e luxuosamente mobiliada. Acha-se ali sósinha e sentada ao piano uma bella e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenhão-se distinctamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que elle. São tão puras e suaves essas linhas, que fascinão os olhos, enlevão a mente, e para-