188

compaixão. Isaura tem-me contado toda a sua vida, e segundo creio, pode allegar, e talvez provar direito á liberdade. Sua senhora velha, mãe do actual senhor, a qual creou-a com todo o mimo, e a quem ella deve a excelente educação que tem, tinha declarado por vezes diante de testemunhas, que por sua morte a deixaria livre; a morte subita e inesperada desta senhora, que falleceo sem testamento, é a causa de Isaura achar-se ainda entre as garras do mais devasso e infame dos senhores.

— E agora o que pretendes fazer?...

— Pretendo requerer, que Isaura seja mantida em liberdade, e que lhe seja nomeado um curador a fim de tratar do seo direito.

— E onde esperas encontrar provas ou documentos para provar as allegações que fazes?

— Não sei, Geraldo; desejava consultar-te, e esperava-te com impaciencia precisamente para esse fim. Quero que com a tua sciencia juridica me esclareças e inspires neste negocio. Já lancei mão do primeiro e mais obvio expediente que se me offerecia, e logo no dia seguinte ao do baile escrevi ao senhor de Isaura com as palavras as mais comedidas e suasivas, de que pude usar, convidando-o a abrir preço para a liberdade della. Foi péor; o libidinoso e ciumento Rajáh enfureceo-se e mandou-me em resposta esta carta insolente, que acabo de receber, em que me trata