A ESCRAVA ISAURA
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momento a cismar com os dedos sobre o teclado como escutando os derradeiros echos da sua canção.

Entretanto abre-se subtilmente a cortina de cassa de uma das portas interiores, e uma nova personagem penetra no salão. Era tambem uma formosa dama ainda no viço da mocidade, bonita, bem feita e elegante. A riqueza e o primoroso esmero do trajar, o porte altivo e senhoril, certo balanceio affectado e languoroso dos movimentos davão-lhe esse ar pretencioso, que acompanha toda a moça bonita e rica, ainda mesmo quando está sozinha. Mas com todo esse luxo e donaire de grande senhora nem por isso sua grande belleza deixava de ficar algum tanto eclypsada em presença das formas puras e correctas, da nobre singeleza, e dos tão naturaes e modestos ademanes da cantora. Todavia Malvina era linda, encantadora mesmo, e posto que vaidosa de sua formosura e alta posição, transluzia-lhe nos grandes e meigos olhos azues toda a nativa bondade de seo coração.

Malvina approximou-se de manso e sem ser presentida para junto da cantora, collocando-se por detrás della esperou que terminasse a ultima copla.

— Isaura!... disse ella pousando de leve a delicada mãosinha sobre o hombro da cantora.

— Ah! é a senhora?! — respondeo Isaura vol-