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A ESCRAVA ISAURA

tando-se sobressaltada. — Não sabia, que estava ahi me escutando.

— Pois que tem isso?... continúa a cantar;... tens a voz tão bonita!... mas eu antes quizéra que cantasses outra cousa; por que é, que você gosta tanto dessa cantiga tão triste, que você aprendeo não sei onde?...

— Gosto della, porque acho-a bonita, e porque... ah! não devo fallar...

— Falla, Isaura. Já não te disse, que nada me deves esconder, e nada recear de mim?...

— Porque me faz lembrar de minha mãe, que eu não conheci, coitada!... Mas se a senhora não gosta dessa cantiga, não a cantarei mais.

— Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és maltratada, que és uma escrava infeliz, victima de senhores barbaros e crueis. Entretanto passas aqui uma vida, que faria inveja a muita gente livre. Gozas da estima de teos senhores. Derão-te uma educação, como não tiverão muitas ricas e illustres damas, que eu conheço. És formosa, e tens uma cor tão linda, que ninguem dirá que gyra em tuas veias uma só gota de sangue africano. Bem sabes, quanto minha boa sogra antes de expirar te recommendava a mim e a meo marido. Hei-de respeitar sempre as recommendações daquella santa mulher, e tu bem vês, sou mais tua amiga, do que tua senhora. Oh! não; não cabe em tua boca essa cantiga