A ESCRAVA ISAURA
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lastimosa, que tanto gostas de cantar. — Não quero, — continuou em tom de branda reprehensão, — não quero que a cantes mais, ouviste, Isaura?... senão, fecho-te o meo piano.

— Mas, senhora, apezar de tudo isso que sou eu mais do que uma simples escrava? Essa educação, que me derão, e essa belleza, que tanto me gabão, de que me servem?... são trastes de luxo collocados na senzala do africano. A senzala nem por isso deixa de ser o que é; uma senzala.

— Queixas-te da tua sorte, Isaura?...

— Eu, não senhora; não tenho motivo;... o que quero dizer com isto é que apezar de todos esses dotes e vantagens, que me attribuem, sei conhecer o meo lugar.

— Anda lá; já sei o que te amofina; a tua cantiga bem o diz. Bonita como és, não podes deixar de ter algum namorado.

— Eu, senhora!... por quem é, não pense nisso.

— Tu mesma; pois que tem isso?... não te vexes; pois é alguma cousa do outro mundo? Vamos já, confessa; tens um amante, e é por isso, que lamentas não teres nascido livre para poder amar aquelle que te agradou, e a quem cahiste em graça, não é assim?...

— Perdôe-me, sinhá Malvina; — replicou a escrava com um candido sorriso. — Está muito enganada; estou tão longe de pensar nisso!