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omnipotente do destino. Embalde procurou, já nas graves occupações do espirito, já nas distracções frivolas da sociedade, um meio de apagar da lembrança a imagem da gentil captiva. Ella lhe estava sempre presente em todos os sonhos d’alma, ora resplendente de belleza e graça, donosa e seductora como na noite do baile, ora palida e abatida, vergada ao peso de seo infortunio, com os pulsos algemados, cravando nelle os olhos supplicantes como que a dizer-lhe:

— Vem, não me abandones; só tu podes quebrar estes ferros, que me opprimem.

O espirito de Alvaro firmou-se por fim na intima e inabalavel convicção de que o céo, pondo em contacto o seo destino com o daquella encantadora e infeliz escrava, tivéra um designio providencial, e o escolhera para instrumento da nobre e generosa missão de arrebatal-a á escravidão, e dar-lhe na sociedade o elevado lugar que por sua belleza, virtudes e talentos, lhe competia.

Resolveo-se portanto, fosse qual fosse o resultado, a proseguir nessa generosa tentativa, com a cegueira do fanatismo, senão com o arrastamento de uma inspiração providencial.

Alvaro partio para o Rio de Janeiro. Já[1] ao acaso, sem plano nenhum formado, sem bem saber o que devia fazer para chegar aos seos fins; mas tinha como uma intuição vaga de que o céo lhe depararia occasião e meios de levar a cabo a

  1. Ia