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A ESCRAVA ISAURA

a rapariga lhe havia revelado alguma cousa, e isto o fazia espumar de despeito e raiva contra um e outra. Bem pouco lhe importava a perturbação da paz domestica, o que o enfurecia era o perigo, em que se collocára de ver desconcertados os seos perversos designios sobre a gentil escrava.

— Maldição! — rugia elle lá comsigo. — Aquelle maluco é bem capaz de desconcertar todos os meos planos. Se sabe alguma cousa, como parece, não porá duvida em levar tudo aos ouvidos de Malvina...

Leoncio ficou por alguns momentos em pé, imovel, sombrio, carrancudo, com o espirito entregue á cruel inquietação, que o fustigava. Depois, pairando as vistas em derredor, deo com os olhos em Isaura, a qual, desde que Leoncio se apresentára, corrida, trémula e anhelante, fôra sumir-se em um canto da sala; dali presenciára em silenciosa anciedade a altercação dos dous moços, como corsa mal ferida escutando o rugir de dous tigres, que disputão entre si o direito de devoral-a. Por seo lado tambem se arrependia do intimo d’alma, e raivava contra si mesma pela indiscreta e louca revelação, que em um assomo de impaciencia deixára escapar de seos labios. Sua imprudencia ia ser causa da mais deploravel discordia no seio daquella familia, discordia, de que por fim de contas ella viria a ser a principal victima. A desavença entre os dous