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     Entregava-me a esse estudo, relendo as obras de Carlos Comte, Tocqueville e Volinari, e principalmente, a importantissima 56ª licção de Curso de Aug. Comte sobre o desinvolvimento fundamental dos diversos elementos proprios ao estado positivo da humanidade, quando assaltou-me a recordação de já ter lido algures, ainda no tempo de estudante, um trabalho de Condorcet sobre o assumpto. Procurei certificar-me da exactidão d'essa minha reminiscencia, e foi então que tive o prazer de reler as preciosas Reflexões sobre a escravidão dos negros, escriptas por esse i1lustre e infeliz sabio, cujo nome por si só bastaria para illuminar a grande Convenção Nacional Franceza de 1793, si os muitos resultados praticos do trabalho d'essa assembléa, em todos os ramos da actividade humana, não tivessem permanecido para attestar-lhe a grandeza, demonstrando que os beneficios por ella produzidos excedem em muito os seus desvarios revolucionarios. Ao lado da metaphysica revulucionaria que destruia o mundo antigo, ensaiava já, n'essa grande epocha, o espirito positivo os seus primeiros esforços de reconstrucção, encarnado, quanto á sua tendencia temporal politica, em Danton, e quanto á sua tendencia espiritual, em Condorcet.

     Não tenho fanatismo pelo passado, mas habituei-me a fazer-lhe inteira justiça; demais, quando estudo o presente, trato de comparal-o com o passado, porque sei que só por meio de tal comparação é possivel prever-se com alguma probabilidade o futuro.

     Permitta·se-me, pois, recordar aquelles soberbos discursos com que Mirabeau, Vergniaud, Robespierre e Danton resumiam, quando occupavam a cadeira presidencial da Assembléa Constituinte ou da Convenção, a discussão havida sobre cada proposta antes de a submetterem á votação. Excellente praxe essa que, creio, é ainda hoje seguida pelo Parlamento Francez,