— Lá vens tu...

Ruth nãos os ouvia, voava no ar como uma pluma, cerrando os olhos à claridade que se difundia nas cores gloriosas de um crepúsculo ardente. De vez em quando, num impulso mais forte sua cabeça roçava na rama florida do cajazeiro, e o sussurro das folhas tinha para os seus ouvidos um rumor divino e ritmado, de música impecável. Toda a sua força se concentrava nas mãos, que a aspereza das cordas magoava, única parte então sensível do seu corpo, que ia e vinha na luz cambiante da tarde, como uma sombra movediça e impalpável.

Na vertigem do vôo, ela não via, em cima e em roda, senão claridades estonteadoras, onde anjos azuis abriam asas esgarçadas de nuvens fugidias, por entre barras de ouro e enoveladas fogueiras rubras. Em baixo, na terra cor de âmbar, o veludo verde das gramas e dos arbustos distendia-se num espreguiçamento voluptuoso e macio, à espera do sono.

Ia chegando a hora da consagração puríssima da natureza: a hora das estrelas, Não tardou que o alaranjado poente se concentrasse num roxo escuro, bipartido em ilhotas negras, sobre um mar de prata. De repente, a penumbra.

O calor aumentava; houve roncar de trovoada ao longe.