do meio das lãs, como um desafio aos seus sentidos, num assalto impudico e voluptuoso.
Acudiu-lhe então a idéia perversa de haver um propósito malicioso naquela história. Não lhe afirmara Noca tantas e tantas vezes que a prima o amava?
A filha da mulher de má vida aí estava agora, como devia ser: livre de hipocrisias. Mário estendeu-lhe os braços. Nina compreendeu.
Uma onda de sangue subiu-lhe ao rosto; segurou o chale com força e subiu correndo.
A vela apagou-se, os degraus da escada pareciam multiplicar-se debaixo de seus pés. No alvoroço, pisava sem cautela ora no assoalho, ora no passadiço, sentindo as faces abrasadas de vergonha, feliz no seu desespero, supondo-se ainda perseguida pelos braços do Mário, que se quedara estupefato no mesmo ponto.
Um trovão estalou, como se uma bomba tivesse rebentado em casa. Nina sentiu os joelhos vergarem-se-lhe, mas continuou no seu galope tonto até ao patamar. No corredor, em cima, receou ainda errar de porta.
Com as mãos estendidas apalpava a escuridão, ouvindo só o estrondo da chuva, compacta, sempre igual. Temia que o primo a perseguisse