Com o coração aos saltos, foi resvalando pela alcatifa do passadiço, com a precaução de quem vai para o crime.
Quando chegou embaixo já o Mário sacudia a fechadura com impaciência. praguejando raivoso.
Ela tateou os ferrolhos e recomendou:
— Espere um bocadinho, Mário!
— Que estupidez!
— Não faça barulho... já vai! sussurrava ela sem que ele a ouvisse de fora.
Enfim, a porta abriu-se. Mário esperava cosido ao umbral.
— Que idéia foi esta de deixarem a chave...
E ele interrompeu a frase e a cólera, ao ver a prima ali. Por que seria ela e não qualquer criado, quem lhe ia abrir a porta?
— Foi ordem do tio Francisco. Boa noite.
Nina quis subir logo, mas uma lufada de vento obrigou-a a proteger a chama da vela com a mão, e com o gesto desprendeu-se-lhe uma ponta do chale que a envolvia. Na meia escuridade do vestíbulo, Mário percebeu-lhe a doçura do ombro nu, pequeno, redondo, um pouco de carne virginal guardada até aí em um recato que nem o baile afuguentara nunca. E já ele não viu senão a pureza daquele ombro acetinado, saindo