Era a ocasião.
Quando Ruth entrou em casa das tias Rodrigues, d. Itelvina contava, no oratório, os níqueis arrecadados pela irmã, em esmolas para uma missa rezada.
D. Joana tinha ido à novena do Rosário, nos Capuchinhos, e entoava a essa hora o - ora pro nobis, em coro com o povo e os frades.
Ruth sentiu frio naquele casarão do Castelo, de largas salas ensebadas, sem cortinas, quase sem mobília, com papéis sujos nas paredes desguarnecidas; mas a idéia de ir ao observatório tentava-a, e valia todos os sacrifícios. Ficaria.
Quem lhe abriu a porta foi a Sancha, sempre de olhos inchados e a roupa em frangalhos. Mal deu com os olhos em Noca, a negrinha sorriu, perguntando pela sua encomenda.
— Que encomenda, gente?
— A senhora já se esqueceu, tornou a preta a meia voz, o arsênico que eu pedi...
— Ué! você está maluca! eu já nem me lembrava disso! Tome o seu dinheiro; não foi quinhentos réis que você me deu?
— Foi; mas eu não quero dinheiro, quero a outra coisa...