— Oh, tia Joana! pergunte antes o que lhe sobra...
— Você é muito impressionável. Creia que a pequena não é infeliz. Que seria dela, se não estivesse lá em casa... Uma desgraçada, dessas da rua. Talvez que bebesse, ou que já estivesse com um filho nos braços.
— Estar com um filho nos braços! mas isso seria uma fortuna, tia Joana. Tomara eu.
Menina, que é que você está dizendo!
— Gosto tanto de crianças! Olhe, tia Joana, o meu desejo é ter vinte filhos, vinte!
A velha corou.
— Perdôo essas palavras, porque você é inocente; mas não torne a repeti-las, ouviu?
Ruth cismava em que constituiria pecado o ter vinte filhos, quando D. Joana exclamou, apontando para duas crianças, carregadas uma com uma harpa, outra com uma rabeca:
— Olha, Ruth; aquelas, sim, é que são infelizes: andam ao sol e à chuva, e se não levam dinheiro para casa, ainda apanham por cima.
— Não as compare à outra, tia Joana. Eu preferiria andar sempre ao ar livre, apanhando sóis e chuvas, tocando no meu violino, dormindo em qualquer soleira de pedra, do que viver no borralho como a Sancha. Ao menos estes têm a música.