com os olhos no vácuo. Esteve largo tempo assim, imóvel. Depois, sem que um único músculo do rosto se lhe contraísse, abriu uma gaveta da secretária, tirou dela um revólver e examinou-o com atenção. Era uma arma nova, reluzindo ainda às últimas fricções da camurça; o negociante revirou-a entre os dedos, moveu o gatilho, carregou-a e tornou a guardá-la na mesma gaveta, que fechou à chave.
Estava ali dentro o descanso, a eterna paz.
Tinha ao alcance da mão o esquecimento de tudo...
No dia seguinte, depois de uma terrível noite de insônia, Teodoro desceu à hora do costume para a sala de jantar, reluzente de cristais e prataria, e sentou-se à mesa, em frente ao terraço que todo se via pelas largas portas abertas. Ao centro, uns degraus amplos desciam para o parque de relvas bem tratadas; junto ao ponto terminal dos balaústres irrompiam, de entre tufos de avenca, dois esplêndidos pés de manacá em flor. Francisco Teodoro olhava para eles sem os ver, absorvido no seu desgosto, quando a afilhada o interrompeu:
— Bons dias, titio!
— Adeus, Nina.