De volta do cemitério, dr. Gervásio entrou no palacete Teodoro. O gás da sala de jantar estava em lamparina, ele mal distinguiu uns vultos a um canto; aproximou-se. Era Camila sentada no divã, entre as gêmeas adormecidas. Ela, muito pálida. com uma brancura que saía do negror das roupas num polimento de mármore, interrogou-o com o olhar.
Calado, o médico entregou-lhe a chave do esquife. Evitaram o contato das mãos: ela encolheu-se, ele recuou e foi sentar-se ao pé da mesa.
Era a primeira vez que se repeliam. Mila sentia na palma da mão a friagem daquela chave pequenina e pesada sem saber onde guardá-la, com medo de a por no seio, achando irreverente guardá-la no bolso.
Gervásio considerava na dolorosa delicadeza daquela situação, que o obrigara a ele a trazer do cemitério a chave da prisão perpétua do outro. Apoquentou-o a idéia de o terem escolhido por ironia, e, olhando para a Mila, pareceu-lhe que nunca mais poderia beijar sem arrepios aquela boca, que tão repetidos beijos dera num cadáver...
A única voz na sala era a do relógio;