não continuariam a viver como até então?

Camila não respondia, e como ele instasse, ela pediu:

— Deixa-me ir embora!

— Tens razão; precisas descansar. Mas não podes ir assim, deixa-me ao menos mandar buscar-te um carro!

Camila desprendeu-se, já muito impaciente; queria ir sozinha, andar a pé ao ar livre. Ele consentiu, adivinhando que a perdia para sempre. Talvez fosse melhor assim...

Ela colheu a cauda da saia e saiu tiritando de frio, por aquela luminosa tarde de verão. Encontrara fechada a porta do futuro; voltara para trás, aturdida, como se sentisse dentro da cabeça um sino doido, badalando furiosamente. Ele era casado! Ele mentira-lhe! Tantos anos de mentira, tantos anos de mentira!

Era já noite quando Camila entrou no seu jardinzinho da rua de d. Luiza. A casa estava ainda às escuras, mas Ruth tocava lá dentro um adágio de Mendelssohn. Extenuada, Camila sentou-se nos degraus de pedra, como uma mendiga à espera da esmola. As luzes dispersas dos lampiões semeavam de pontos de ouro