porta. Sancha tirou-lhe a touca, guardou-lhe o livro e os rosários, e sumiu-se, sem ter descerrado os lábios nem enxugado os olhos vermelhos e inundados.
— Hoje a igreja estava repleta; falou monsenhor Nuno... foi um grande sermão, de muito proveito e de muita fé! disse d. Joana, e depois de uma pausa: O Noca! Mila não vai nunca às solenidades religiosas?
— Vai todos os domingos à missa.
— Bem! que não deixe perder a sua alma! Entretanto, eu rezo por todos. A pena que eu tenho é de me custar tanto a ajoelhar... estou com as pernas cada vez mais inchadas...
— Isso é cisma, resmungou d. Itelvina, retirando-se para o interior. Noca aconselhou logo um remédio prodigioso, benzido com cinco cruzes. Ela sabia dessas coisas. Todos de casa a consultavam. A botica era a chácara, com as suas folhas, cultivadas umas, agrestes outras; conhecia-lhes os segredos, roubava-lhes os filtros mais sutis e aplicava-os acompanhando-os com orações especiais dos santos mártires. Era sempre a Noca quem avisava às pessoas da família qual o melhor dia para cortar o cabelo, para fazer uma viagem ou para tomar qualquer mezinha. Sabia as voltas da lua, e traduzia os sonhos que lhe contavam, com palavras