sem interrupção. As senhoras Rodrigues eram muito conhecidas no bairro. Diziam que d. Itelvina passava horas da noite escavando o quintal, à procura dos afamados tesouros guardados pelos jesuítas. Os vizinhos viam uma luz de lanterna movendo-se na sombra do pátio, rente do chão, e olhavam-na com desconfiança.
A outra era uma beata de igreja e já constava que legaria os seus haveres ao frei Ângelo, dos Capuchinhos. A quitandeira afirmava que elas haviam de passar mal da barriga: decorriam semanas sem que lhe comprassem nem um triste feixe de espinafres ou molho de cenouras!
Quando a Noca atravessava o largo. com uma criança por cada mão, para a ladeira do Seminário, sentiu que alguém, que viera correndo, lhe puxava pela saia; voltou-se e viu Sancha, com ar de medo, de quem foge.
— Ué! que é que você quer?
— Quero pedir um favor, disse a negrinha, meio engasgada, tirando do seio uma nota de quinhentos réis amarrotada e imunda.
— Que favor, gente?
— Quando voltar cá, traga isto de arsênico, disse ela apontando o dinheiro que oferecia à mulata.