A honestidade de Etelvina, amante...
A porta fechou-se. Enquanto subíamos as escadas, íamos como pisando nos ais do pobre homem em baixo. — «Etelvina! Etelvina!» gania a criatura. Agarrada a mim, na treva, Etelvina tinha as mãos de gêlo. Desgraçadamente tenho visto comigo, que não sou melhor nem pior que os outros homens, o efeito desastroso do choque dos preconceitos sociais sôbre a nossa animalidade. Eu era abjecto. Aquela criatura que se agarrava a mim era refinadamente miserável. Abandonara a filha, deixara um homem a soluçar, por outro a quem não podia ainda amar e que ainda não a amava. E apesar de tudo, talvez por tudo, o desejo como uma alucinação queimava-nos. No meu quarto era impossível falar. A vizinhança protestaria. Se tivéssemos falado, talvez nos contivéssemos. As palavras fizeram-se para desvirtuar a vida... Calados, ela tremia, eu tremia. Rolámos no leito. Foi a noite de mais exasperado prazer que conheci...
— Cáspitè!
Fiquei prêso. Podia dizer-lhe, para fazer literatura, que ficara no desejo de decifrar o monstro. Não. Tinha vinte quatro anos, idade em que os homens tanto se importam com a psicologia das mulheres como com a sua certidão de idade. Também não era amor. Fiquei simplesmente porque ela se fazia carinho, ternura, o dia inteiro. Fiquei por sensualidade. Nunca lhe vi os filhos e a mãe. Ela achava inútil. Nunca perguntei quantos anos tinha. Obedecia-me de tal modo que eu era muito mais Velho sempre. E quanto à ordem, à dedicação — que dona de casa e que esposa! Falava pouco. Nunca me fez uma scena. Eu era o seu Deus. Es-