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que passava, e, durante a corrida, insultei-a. Insultei-a de desespêro, porque ela sem dizer palavra, olhava fixamente a ponta dos botins, distante de mim, cada vez mais distante à proporção que os meus insultos cresciam.

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Ao chegarmos a casa subiu rápida. «Vai fechar-se no quarto e chorar!», pensei. Mas quando cheguei acima, Etelvina estava -na casa de jantar, de luvas, de chapéu, com uma pequena valise na mão.

— «Temos scena?» indaguei colérico.

— «Sabes bem que não faço scenas.

Tomei apenas uma resolução irrevogável». — «Qual?» — «Parto !»— «Estás louca.» — «Cometeste um acto indigno. Desmoralizaste-me diante da companhia». — «Minha querida, nada de farças. O Justino, êsse canalha, já dava que falar até aos anónimos. 0lha esta carta! Conheço-te». — «Deves pois saber que não é meu costume enganar o homem com quem vivo. Quando a harmonia cessa — desapareço». — «Olha que eu não sou o Eusébio.» —«Não, porque o Eusébio nunca me insultou!» — «Etelvina, não me enfuries!» —«Farei o possível. O senhor duvida de mim; o senhor espancou um pobre rapaz; o senhor insultou-me, dando-me nêsse tremendo escândalo como amante de outro. Não podemos viver juntos, para a sua própria dignidade. Seja feliz!» — «Vais ter com êle, como fizeste comigo quando deixaste o Eusébio?». Ela voltou-se lívida: «Juro-lhe que não pensava nêsse homem; juro-lhe que não serei sua amante. Vou de aqui para a casa de minha mãe». Dei uma gargalhada de desafio : — «Pois até à vista!» — «Adeus, Gastão...»

Ao vê-la sair, esperei um instante, por orgulho, por vaidade. Depois, sentindo o desastre, atirei-me com vontade de espancá-la, de pedir-lhe perdão e ao mesmo tempo certo do irremediável. Desci, chamei. Já não estava. Corri ao Lumiar, à casa onde tinha a mãe. Não aparecera. Fui ao teatro, sem saber o que ia fazer. Etelvina representava. A minha entrada tinha sido proibida na caixa e vinham a mim o vice-cônsul do Brasil e um senhor amável. Etelvina reclamara garantias à segurança e mandara um