Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/119

— Não foi nada; era o sol que vos castigava a cabeça e vos aquentava os miolos; por isso tivestes um pesadelo.

De feito, os raios do sol, que ia declinando, começavam a penetrar na meia gruta em que o moço se abrigara, e batiam-lhe em cheio sobre a fronte descoberta.

A resposta indiferente, prosaica e glacial da moça, que nem de leve manifestou curiosidade de saber qual fora o sonho de Ricardo, o calcou de chofre no abismo do mais cruel abatimento.

Ditas aquelas palavras, acenou-lhe com a fronte um leve adeus e em poucos instantes desapareceu por entre uns rochedos vizinhos.

Fosse prevenção ou realidade, Ricardo notou que, ao voltar-lhe as costas, a moça empalidecera, e que ao ligeiro sorriso que lhe ornava os lábios sucedera uma sombra de tristeza, que lhe envolveu como um crepe toda a fisionomia. Gélido e mortal desalento, filtrou-se-lhe no âmago do coração. Esse sonho, seguido da visão real que tão fielmente o interpreta, ou antes reproduz aquele canto suave, aquela aparição risonha e fagueira que depois se abisma entre os horrores de pavorosa borrasca, enfim, ao despertar aquela fada, aquele anjo radiante de beleza, que um momento o afaga com um sorriso para depois voltar-lhe as costas com indiferença