Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/120

e enfado, tudo isso lançava-lhe no espírito indizível perturbação. A alma do mancebo estorcia-se sob o peso da poderosa fascinação; o formidável olhar da fada dos mares lhe havia traspassado o coração como um farpão ervado, e nele coara o veneno dessa paixão profunda, infrene, inextinguível, que soía inspirar a todos que a contemplavam. Desde então, o destino inscreveu também o nome de Ricardo no livro negro das numerosas vítimas da fatídica beldade.

Ricardo afastou-se, ou antes arrastou-se a passos lentos daquele sítio fatal. Já não era o mesmo adolescente de semblante calmo e plácido, de senhoril e nobre porte; poucos momentos bastaram para transtornar-lhe inteiramente o gesto e o aspecto. A cabeça curvada para o chão ardia-lhe em mil delírios; o coração ora lhe pulsava alvoroçado em vagas e insensatas aspirações e sonhos de inefáveis delícias, ora como que de todo lhe parava abafado entre as garras do mais profundo desalento. E assim foi andando trôpego e arquejante como o cervo novo, que escapou lacerado e sangrento das garras da pantera, até chegar à cabana agora solitária, onde outrora passara dias tão alegres e felizes em companhia de seus irmãos. Parou diante da porta e, cruzando melancolicamente os braços:

— Não! Não…! — exclamou com voz lúgubre e