Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/147

diabo. Melhor é ficarem quietos tratando da vida do que irem se arriscar, ou antes correrem a uma morte certa. O mar é grande; não nos falta espaço para velejar e pescar, e deixemos em paz essa malvada bruxa com sua ilha amaldiçoada.

— Ora, deixem-se disso — retorquiu Rodrigo com sorriso desdenhoso. — Qual bruxa, nem fada, nem sereia! O que se sabe é que é uma moça de extraordinária formosura, e que canta admiravelmente; e quem não arriscaria a vida para ver e ouvir uma criatura assim, embora se chame fada, sereia, bruxa ou mesmo diabo? Vou vê-la, e já, enquanto a ilha não se some em algum nevoeiro, ou não desaparece por encantamento.

Dizendo isso, o moço desamarrava o seu barco, saltava dentro, e daí a instantes singrava ao largo com toda a força de remo e vela. O sol já descambava do zênite, a brisa de terra, que lhe soprava ponteira, enfunava-lhe rijamente a vela; a maré vazante ajudava o esforço do vento, e tudo favorecia a temerária empresa do jovem pescador. O barco esguio e leve cortava as ondas como um golfinho, e dirigia-se certeiro à ilha encantada, como seta a seu alvo. Já a branca vela mal aparecia ao longe como a asa curva da gaivota, aproximando-se dos alvejantes escarcéus que circundam a ilha, e no meio dos quais ela quase desaparecia