velho depois de um instante de reflexão —, melhor é mesmo que te conte; é bom conhecer o perigo para saber fugir dele. Mas, já te disse, fica certo que não é nenhuma história da carochinha, como essas que em pequenino te contavam; é uma história verdadeira, uma história acontecida aqui para a desgraça e escarmento deste bom povo. Meu pai, que a ouviu de seu pai, a contou a teu pai, de cuja boca agora vais ouvi-la. Dá-me toda a atenção, meu filho, e ficarás sabendo que quando fores grande, e soltares teu barco ao mar, deves vogar bem longe, ouviste? Bem longe da ilha maldita.
E ao bramido das ondas, que se quebravam brandamente ao longo das praias, o velho pescador contava a seu filho a história, que eu por minha vez vou contar-vos, ó leitores, não com essa linguagem tosca e singela, mas por certo pitoresca e animada, que empregaria o pescador, e que eu debalde procuraria imitar, mas revestidas dos andrajos que minha pobre musa vai lhe emprestar. Bem sei que todas as galas e louçanias do mais polido estilo, todos os recursos da mais fecunda e brilhante fantasia não poderiam suprir o vigor e a frescura de colorido, a vivacidade e energia de expressão, que devia ter a linguagem do velho narrador, cujo espírito era impressionado pela quase atualidade dos acontecimentos