Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/165

ignorado e inacessível recinto. Os peregrinos encantos, que outrora já tanto seduziam através dos véus diáfanos, em que o recato e timidez envolvem as graças nascentes da primeira juventude, eram apenas vagas promessas, esboços incompletos da prodigiosa e incomparável beleza que agora se lhe apresentava. Os olhos, que outrora como que retraíam em si aquele vivo fulgor e fascinadora magia, que tantas vítimas fizera, agora despediam provocadoras chamas, que ecoavam no íntimo da alma o filtro de mil sonhos de inefáveis delícias. Vivo e ardente rubor coloria-lhe os lábios úmidos e risonhos, que se agitavam como corolas orvalhadas desafiando o beijo das aragens. Espraiava-se-lhe nas faces um mimoso matiz encarnado, que não era por certo assomo de virginal pudor, mas exuberância de seiva e viço juvenil, fogo do coração sedento de amor, que lhe aquecia o sangue, e vinha abrolhar-lhe nas faces em pétalas de rosa. Os braços, espáduas e seios mais avolumados torneavam-se em mórbidas e voluptuosas curvas, e os contornos do corpo desenhavam-se bem acentuados em todo o seu vigor e amplitude sob a ligeira e singela roupagem, que do donoso cinto pendia-lhe flácida ao longo dos membros, ondulando ao sopro de escassa viração. Já não era a tenra flor que mal abria timidamente aos fulgores da nascente