um padre que santificasse a sua união; em segundo lugar, porque o plano desta verdadeira história está invariavelmente traçado pela mão da casmurra e vingativa fada ou sereia que presidia os destinos de Regina. Esta inexorável fada dos marítimos domínios parece não estar disposta a perdoar os pecados de Regina, e deseja punir de modo rigoroso e exemplar o generoso perjúrio, por meio do qual o amor lhe fizera poupar a vida a um belo mancebo que tinha a desventura de ser filho da terra. Eis o grande crime pelo qual devia incorrer na mais severa punição, não obstante ter ela adquirido incontestável direito a mais completa indulgência, tanto pela chusma de amantes, que só com as mortíferas setas de seus lindos olhos tinha enviado para a eternidade, como pela heroica e inexcedível coragem, com que material e literalmente havia varado o coração de dois guapos mancebos com a lâmina fria e sólida de um punhal.
É verdade que não foi Regina, essa altiva e intratável filha das ondas, quem poupou a vida a Ricardo, mas sim o amor que, a despeito dela, estendeu sobre o mancebo o seu manto misericordioso. Mas fosse o que fosse, neste caso o amor e Regina se unificaram em uma só personalidade, e em questões desta natureza nunca o juiz deve fazer distinções sutis.